Hoje parece que desconfiamos até da nossa própria sombra. São tantos golpes, ciladas, assaltos e notícias assustadoras, que acabamos vivendo em alerta constante, com a sensação de que qualquer passo pode ser uma armadilha. A dúvida, que um dia foi apenas sinal de prudência, virou companhia diária. E quando se instala, não só nos protege, mas também nos corrói, tira a leveza, desgasta e até nos adoece!
Outro dia, por exemplo, eu estava vivendo meu momento mais precioso, o café da manhã. É quando paro, respiro fundo e encontro um espaço de calma antes de encarar o mundo lá fora. A xícara quente entre as mãos, o silêncio da manhã, a sensação de estar em um lugar seguro. Mas, de repente, o telefone tocou. Atendi falando um alô, meio contrariada já com aquela pressa de quem não quer ter o instante interrompido e do outro lado… nada. Silêncio absoluto.
Fiquei esperando, e o vazio da linha só aumentava a estranheza. Foi impossível não lembrar das histórias sobre clonagem de voz e golpes por ligação. De repente, o que poderia ser apenas uma chamada equivocada se transformou em uma onda de inquietação. A sensação é de que até dentro de casa, no nosso espaço mais íntimo, o medo pode encontrar um jeito de entrar, puxar uma cadeira e sentar à mesa como se fosse mais um de nós.
E não é só dentro de casa. Basta sair às ruas para sentir como a insegurança nos acompanha em cada passo. O medo do assalto está sempre à espreita, o celular guardado às pressas ao ver uma moto se aproximando, a bolsa atravessada no corpo como escudo, os olhos que vasculham cada esquina antes de atravessar...
Muitas vezes, a gente não sabe se está realmente em perigo ou se é apenas a mente projetando receios. Mas a verdade é que a dúvida se tornou o nosso guia e não desconfiamos só do desconhecido, mas também do conhecido.
Há quem evite atender números desconhecidos, mesmo quando espera uma ligação importante. Quem hesite diante de uma gentileza na rua, sempre com o pensamento de que "pode ser uma armadilha". E até entre amigos e familiares a desconfiança se instalou: um simples pedido de ajuda por mensagem já nos faz pensar duas vezes antes de responder ou transferir dinheiro. Um gesto de confiança que antes era natural, hoje vem acompanhado de investigação. Essa cautela, que deveria ser exceção, se transformou em regra.
Mas também não dá para viver trancado dentro do medo. O que era proteção não pode virar prisão. A vida pede equilíbrio. É possível se prevenir sem perder a paz. Pequenas atitudes ajudam, como respirar antes de reagir, confirmar informações com calma, falar sobre nossos receios em vez de guardá-los sozinhos, se informar sobre os tipos de golpes e também repensar hábitos nas ruas, evitar distrações, escolher caminhos mais seguros, andar em grupo quando possível.
São cuidados que trazem segurança, sem que o medo se torne dono da nossa rotina. Porque, no fim - precisamos lembrar - nem tudo ao redor é ameaça. Ainda existem pessoas confiáveis, gestos de bondade e encontros sinceros. A desconfiança pode até ser necessária em tempos como o nosso, mas não pode ditar todas as regras da nossa vida.
Desconfiar pode nos manter de pé, mas confiar, mesmo que com cautela, é o que nos permite caminhar com leveza. Afinal, sobreviver em alerta é instinto. Mas viver em paz é escolha.
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Débora Máximo é influencer e graduanda em Psicologia
Nem tudo ao nosso redor é ameaça
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