'Preste atenção à voz interna que te sabota'

 'Preste atenção à voz interna que te sabota'

Por Débora Máximo

Com o final de mais um ano e a chegada de um novo ciclo, a tradição de fazer promessas ambiciosas se repete: "Em 2026, vou mudar de vida, emagrecer, mudar de carreira!" Colocamos toda a nossa esperança no próximo ano, convictos de que, dessa vez, a transformação acontecerá. No entanto, a realidade mostra que muitas dessas promessas são abandonadas no meio do caminho. O que nos impede de cumprir aquilo que desejamos?

A resposta está em um campo de batalha interno, nossos próprios pensamentos e crenças sobre nós mesmos. O grande sabotador dos nossos planos não é a falta de tempo ou recursos, mas sim a voz interna que sussurra, a dúvida e a desqualificação, minando nossos objetivos antes mesmo que eles ganhem tração.

Nós falhamos porque nossas resoluções são frequentemente atingidas por crenças limitantes, são convicções arraigadas - como "eu não vou conseguir" ou "não tenho disciplina" - que criam uma profecia auto-realizável de fracasso. No primeiro obstáculo, nosso cérebro conclui: "Eu sabia que não ia dar certo" e o plano é descartado. Além disso, apegamo-nos à armadilha do "tudo ou nada", se a dieta for quebrada em um dia, a mente conclui que "já estraguei tudo" e abandona o projeto completamente.

Há um fator crucial que contribui para essa desistência, a relutância em abrir mão de algo em troca da mudança. Muitos de nós desejamos o resultado (o corpo mais saudável, a carreira de sucesso), mas não queremos pagar o preço em termos de renúncia (o conforto do sofá, o tempo gasto em hábitos antigos, a resistência ao sacrifício imediato). Quando o objetivo não é atingido, o mecanismo de defesa entra em ação e é comum que a pessoa culpe fatores externos pelo fracasso, como a falta de apoio da família, o trabalho exigente ou  a "má sorte", em vez de assumir a responsabilidade pelas escolhas e pela falta de renúncia necessárias.

Apesar do entusiasmo do Ano Novo, estudos sobre a formação de hábitos mostram que a porcentagem de sucesso sustentável nas resoluções é extremamente baixa, em torno de 8% a 10%. O motivo principal dessa falha é a falta de foco. A maioria das pessoas se concentram apenas no "o quê" (o resultado final, como "emagrecer 10kg") e ignora o "como" (o sistema e o hábito diário, como "caminhar 30 minutos"). Essa abordagem, combinada com a expectativa por mudança imediata, leva à frustração quando os resultados não são rápidos, o que, por sua vez, reforça os pensamentos de incapacidade e provoca o abandono das metas.

Se a raiz do problema são nossos pensamentos, a solução é a consciência e a mudança de abordagem. Não precisamos de mais força de vontade, mas sim de ferramentas mentais mais eficazes.

Substituir metas por sistemas sustentáveis, em vez de focar no resultado ambicioso, funciona melhor; ao invés de pensar em correr uma maratona, que tal se concentrar em estabelecer o hábito pequeno e gerenciável, como sair de casa para se movimentar por 15 minutos? O foco deve ser na consistência do hábito e não na perfeição do resultado.

Preste atenção à voz interna que te sabota. Ao ouvir um pensamento limitante ("isso é inútil, vou desistir"), pare e se pergunte: "Esse pensamento é um fato ou apenas uma crença antiga?" Busque evidências, mesmo que pequenas, de que você é capaz de manter a consistência. Adote a curiosidade em vez da pressão e substitua a pressão do "Eu devo emagrecer" pela exploração. Pergunte-se: "Como seria se eu desse um pequeno passo hoje para me aproximar de uma nova habilidade que me traga alegria?"

Perceba que o novo ciclo de 2026 não exige uma versão perfeita de você, mas sim uma versão consciente e compassiva, disposta a fazer pequenas e necessárias renúncias. É hora de reconhecer os pensamentos limitantes, desafiá-los e finalmente, soltar a âncora para construir a vida que realmente deseja em 2026. Esse pode ser o ano em que você não apenas faz a promessa, mas se torna a pessoa que a cumpre.

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Débora Máximo é influencer e graduanda em Psicologia