CONVERSAS PSICANALÍTICAS COM O DR. EDUARDO BAUNILHA
Hipervigilância
Em todas as rodas de conversa que empreendo o que sempre parece bem patente e real é o fato de que todos nós, sem exceção, temos feridas ainda em aberto.
E isso não é desvalor algum, muito pelo contrário, pois quando tomamos consciência destas feridas, o enfrenta-las, elaborá-las, fica ainda mais desafiador, para não dizer tranquilo.
A minha preocupação enquanto analista é perceber a dificuldade que muitos têm de reconhecer estas feridas. Obviamente que não é uma crítica, pois esta negação é um mecanismo de defesa. Todavia não é saudável e, como tal, precisa ser revisto.
O medo, a negação, quando não saudáveis, provocam uma hipervigilância sem precedentes. Ficamos na defensiva o tempo todo, a espreita de que algo ruim nos acontecerá, de que alguém novamente vai nos trair a confiança, de que ouviremos palavras de desaprovação, de que não seremos amados...
Aparentemente, para algumas pessoas, esta hipervigilância pode ser vista como um mecanismo que a protege de sofrer frustrações e tristezas, decepções e dores. Mas o que acontece na realidade é que o sofrimento aumenta ainda mais. Cria-se uma angústia quase insuportável e a vida fica opaca, sem sentido, sem alegria.
Este recurso se faz presente em nós quando, na maioria das vezes, não tivemos um ambiente muito acolhedor na infância. Quando era negligenciada nossas necessidades de afeto mais básicas, ou quando não éramos considerados como desejávamos. Mas não precisa ser assim. O passado nos forma, deforma, mas também nos informa do que devemos fazer para minimizar seus efeitos.
É claro que estamos em um mundo muito difícil, bem hostil, mas não podemos nos perder nas raias da hipervigilância senão deixaremos de viver, ou sobreviveremos apenas esperando o pior, a catástrofe, o inusitado negativo.
A vida é bem mais que isso. Sempre teremos o que comemorar, alegrar, festejar. Basta reconhecer estes momentos, falas, situações, pessoas. Ser vigilante sim, no cuidado com o corpo e mente, nas relações, com o trabalho; e não esquecer de sempre se perguntar se não há um exagero aparente, para ser revisto e trabalhado.
Viver plenamente não significa irresponsabilidade, mas estar em consonância com o que você tem de melhor: a coragem de permanecer de pé em um mundo que quer te deixar no chão.
Um fortíssimo abraço para você!
Instagram: baunilha45 e S48M7
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