Romance cyberpunk levanta questões sobre o Brasil atual
Obra do escritor gaúcho Chris Lopo apresenta um futuro distópico para colocar em cena as tribulações da realidade política e social da realidade presente
Casualidade, o primeiro romance da trilogia Ruido Branco, de Chris Lopo, apresenta como protagonista um rapaz típico de classe média. Lucas, como se chama esse personagem, tem sua vida singela alterada radicalmente depois de receber poderes sobrenaturais.
Buscando um sentido para suas novas habilidades ele passa a atacar a classe política brasileira. Realiza assim as fantasias mórbidas do dito cidadão de bem brasileiro.
Através dessa premissa Lopo coloca o cidadão comum numa encruzilhada. Através dos poderes de Lucas propõe refletir sobre a mediação virtual das redes e como elas afetam nossa sensibilidade. Tudo na criação de um Brasil futurista onde o universo será pano de fundo para uma promissora série de livros.
“Acho que não é necessário citar nomes, mas ele acredita no seu ponto de vista de modo que está disposto a matar qualquer um que possa intervir no seu plano. Ele, como todo bom ditador, acredita que a sua verdade é a verdade absoluta, que tudo o que ele faz é certo, que tudo o que ele pensa é o correto” comenta Lopo sobre Lucas que sugere paralelos com os brasileiros que veem na política uma saída para fantasias egoístas.
Porém, o personagem também tem é humanizado de forma a nuançar melhor as questões morais do romance. “Quem age achando que está fazendo o mal? Que está prejudicando alguém? A gente sempre erra achando que está fazendo o certo. Isso te lembra algum personagem histórico importante?” questiona Lopo.
O autor lembra que a inspiração para sua trilogia veio da literatura cyberpunk. Trata-se de uma estética de ficção científica que coloca um capitalismo acelerado e desigualdade social alarmante junto de inovações e fantasias futuristas.
“Apesar deste primeiro livro não ter nascido com isso em mente, reler obras como Neuromancer, jogar videogames como Shadowrun Returns e Cyberpunk 2077, assistir novamente a filmes como Metropolis e Johnny Mnemonic me fizeram perceber que tudo o que eu tinha escrito servia perfeitamente como a ponta do iceberg, o ponto de partida, para uma história do gênero”, relata Lopo sobre o desenvolvimento imaginativo de sua trilogia.
Por fim, Lopo relaciona a criação dos personagens com sua própria vida. “Muito do que o Chris adolescente era está no Lucas, que acreditava que a anarquia mudaria o mundo”, identifica o escritor. Com esse aspecto autobiográfico ele também relaciona sua vida com essa teia ficcional que critica também a realidade política presente.
Como parte de uma série “Casualidade” dá ênfase as relações com o meio virtual. Para as sequencias Lopo pretende explorar mais profundamente as relações entre o real e o virtual. O segundo livro será ambientado no limiar entre esses dois mundos. Já para o terceiro promete se voltar mais ao mundo real.
Recentemente, Chris Lopo adicionou outro episódio para a saga. O conto “Brasil 2022” (https://bit.ly/39uINt7) relaciona a mitologia da série “Ruido Branco” com os eventos atuais como a pandemia. Assim, coloca em perspectiva as mudanças da série junto com as agitações políticas do mundo real.
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