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23 dezembro, 2025

Crendices, saberes tradicionais e o olhar contemporâneo da Arquitetura

 Crendices, saberes tradicionais e o olhar contemporâneo da Arquitetura


Uma leitura mais cuidadosa de práticas culturais mostram coerência e sensibilidade, diz a arquiteta Dorys Daher






Ao longo da história, a Arquitetura sempre esteve ligada a sistemas simbólicos, crenças e leituras do mundo. Antes mesmo da consolidação do método científico, o ser humano buscava compreender o espaço por meio da observação da natureza, dos ciclos, da luz, do vento e do corpo.


"Nesse contexto surgem práticas como o Feng Shui, o Vastu Shastra na Índia, e outras tradições do Oriente e do Extremo Oriente, frequentemente classificadas no Ocidente como 'crendices', mas que merecem uma leitura mais cuidadosa", segundo a arquiteta Dorys Daher, do Escritório DG Arquitetura (www.dgarquitetura.com.br), localizado em Ipanema, no Rio de Janeiro.


A profissional destaca alguns conceitos nesse sentido, como o Feng Shui e seu simbolismo e percepção espacial. "O Feng Shui não nasceu como decoração mística, mas como uma cosmologia aplicada ao espaço. Ele observa a circulação do chi (energia vital), a relação entre cheios e vazios, a orientação solar, a proteção visual, a hierarquia dos ambientes e a transição entre espaços", segundo ela conceitos que, curiosamente, dialogam com princípios fundamentais da boa arquitetura.


A posição da cama, por exemplo, evita alinhamento direto com portas não apenas por simbolismo, mas porque: reduz estímulos visuais constantes; aumenta a sensação de proteção; e melhora a percepção de controle do espaço. "Da mesma forma, portas alinhadas, fluxos retilíneos excessivos ou ambientes sem transição são criticados no Feng Shui por 'acelerarem a energia', algo que na linguagem arquitetônica contemporânea, poderíamos traduzir como fluxos agressivos, falta de pausas espaciais ou desconforto perceptivo", diz Dorys Daher.


Plantas, elementos naturais e biofilia também merecem consideração para a arquiteta. O uso de plantas, água, madeira, pedra e luz natural é recorrente nessas tradições orientais. Hoje, esses mesmos elementos são amplamente validados por estudos de biofilia, neuroarquitetura e psicologia ambiental.


Assim, o que antes era descrito como "equilíbrio energético", hoje compreendemos como: regulação do estresse, melhora da qualidade do ar, estímulos sensoriais positivos e conexão com ciclos naturais. Ou seja, muda-se a linguagem, mas muitos efeitos permanecem reais.


Dorys lembra que arquitetos não projetam presos a crenças sem comprovação científica, mas também não projetam ignorando a experiência humana do espaço. Com isso o projeto nasce do domínio técnico, do entendimento do fluxo e da funcionalidade, leitura sensível do lugar e no repertório cultural e afetivo do profissional.


"O Oriente sempre valorizou o espaço como uma extensão do corpo e da mente. Já o Ocidente, por muito tempo, privilegiou a razão, a técnica e a eficiência. A arquitetura contemporânea mais interessante surge justamente quando esses mundos se encontram. Ou seja: quando a técnica não elimina o sensível, e o simbólico não substitui o método", avalia Dorys.


Então, crer ou compreender? "Talvez o ponto não seja acreditar ou desacreditar no Feng Shui, mas traduzir seus princípios. Quando despimos essas práticas de dogmas e superstição, encontramos cuidado com o percurso, atenção às transições, respeito à orientação e à luz, valorização do silêncio, do vazio e da pausa", ressalta.


Portanto, as chamadas "crendices" orientais podem ser vistas menos como verdades absolutas e mais como leituras poéticas e empíricas do espaço, construídas ao longo de séculos de observação. "Cabe ao arquiteto contemporâneo filtrar, reinterpretar e integrar esses saberes sem submissão, mas com inteligência crítica e sensibilidade. A Arquitetura, afinal, não é apenas abrigo: é experiência, percepção e memória. E nisso, Oriente e Ocidente têm muito a aprender um com o outro", conclui a profissional.






Fotos: Divulgação
Aqui, por exemplo, um estímulo sensorial positivo: o pinguim decorativo dos anos 1950 passou para as prateleiras e se tornou objeto de estimação

Dorys Daher comanda concorrido escritório de Arquitetura no Rio de Janeiro

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Livia Rosa Santana, tem formação em Turismo e Hotelaria, Culinária,Confeitaria, Teatro ( Atriz, Roteirista e Produtora), Jornalismo pela Faculdade Esamc, Locução de Rádio e Coach. . Trabalhou como Produtora e Coordenadora na cidade de Uberlândia (MG), representando o Iacan-Instituto de Artes e Cultura Alvaro Neto,. A empresa contem trabalhos reconhecidos em todo território nacional. Atualmente atua no jornalismo como CEO dos 35 portais e 5 revistas que é editora-chefe, trabalhou como assessora de imprensa de um agência de modelos, trabalhou como editora-chefe e assessora de imprensa da Revista CBTUR VIP, trabalhou na parte comercial do Jornal do Estado do Rio e Niterói News. Trabalha atualmente na sua empresa Topssimo Assessoria e assessora artistas famosos e empresas. Escreve para vários veículos de comunicação.

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