Grazi Massafera e o libido da vilã de Três Graças
A médica e pesquisadora Fabiane Berta explica os tabus sobre o assunto
Reprodução Instagram @massafera
A estreia da nova novela das nove da TV Globo, Três Graças, reacendeu o debate sobre sexualidade feminina na maturidade. Na trama, Grazi Massafera interpreta Arminda, uma vilã intensa e sedutora que promete movimentar o horário nobre com cenas quentes ao lado de Ferrette (Murilo Benício). Fora das telas, a atriz também chamou atenção ao comentar sua própria libido em entrevista no YouTube, ao afirmar que o desejo sexual tem “prazo de validade” e que pretendia aproveitar antes da chegada da menopausa.
A fala da atriz, que está com 43 anos, se tornou combustível para uma discussão mais ampla sobre os impactos do climatério na vida sexual das mulheres. Segundo a médica e pesquisadora Fabiane Berta, o desejo feminino não expira com a idade. “A libido das mulheres maduras está viva, pulsante e precisa ser tratada com respeito clínico e emocional. Ela é parte essencial da saúde feminina, não uma lembrança da juventude”, explica.
Dados científicos mostram que a queda hormonal durante o climatério pode provocar ressecamento vaginal, alterações de humor, cansaço e perda de interesse sexual. No entanto, isso não representa um fim, e sim a necessidade de novas abordagens. “A sexualidade feminina não termina com a fertilidade. O que falta é prescrição inteligente, tratamento individualizado e menos julgamento”, afirma a especialista.
Entre as estratégias terapêuticas que vêm ganhando destaque, estão a fisioterapia pélvica, o uso de lubrificantes adequados, atividade física regular, apoio psicológico e, quando indicada, a terapia hormonal. “Quando a mulher é compreendida como um sistema complexo, e não reduzida a um ciclo reprodutivo, os resultados são visíveis. Ela responde, e responde bem”, reforça a médica.
O tema também vem sendo cada vez mais explorado pela cultura pop. Programas como Casamento às Cegas 50+ colocaram mulheres maduras no centro de discussões sobre prazer, autoestima e relações afetivas. Personagens clássicas como Odete Roitman, Celina, Raquel e Aldeíde, da recente remake de Vale Tudo, também ajudaram a desconstruir o mito da mulher assexuada depois dos 40 anos.
Para Fabiane, o principal erro histórico da medicina foi silenciar o desejo feminino na maturidade. “A mulher climatérica não está se despedindo de nada. Ela está reivindicando tudo: prazer, saúde, vitalidade e escolha, e isso inclui o orgasmo também”, pontua.
De acordo com a especialista, com os avanços da medicina, o aumento da longevidade e o fortalecimento da autonomia feminina, o climatério vem sendo ressignificado como uma nova fase de descobertas, inclusive entre quatro paredes. “O prazer não tem data de validade. O que está acabando é a paciência das mulheres com o silenciamento histórico a que foram submetidas. Falar de libido e desejo, com ciência e naturalidade, é também falar de saúde pública, de dignidade e de qualidade de vida.”
Sobre Fabiane Berta:
Fabiane Berta é médica e pesquisadora (CRMSP 151.126), integrante do Science Medical Team – OB-GYN Specialist, e atua como Key Opinion Maker da Fagron Brasil. É mestranda no setor de Climatério | Menopausa e pesquisadora adjunta no setor da Endometriose | Dor pélvica pela UNIFESP. Possui pós-graduação em Endocrinologia, Neurociências e Comportamento. É fundadora do MyPausa, iniciativa que propõe um registro nacional da menopausa nos 27 estados do Brasil para promover uma reforma na saúde feminina, com foco em acessibilidade a tratamentos atualizados e respeito à diversidade regional. Atua como PI sub e chefe do Steering Committee do Estudo MyPausa (Science Valley) e como coordenadora da Saúde Feminina para a Arnold Conference 2026.
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