Escritora mineira Bárbara Mançanares lança “A voz incauta das feras”, seu terceiro livro, pela editora Patuá
Na obra, autora brinca com a linguagem e o mundo natural a partir de versos enigmáticos que provocam os sentidos, convida os leitores a pensarem naquilo que escapa ao entendimento fácil, resolutório e imediato
Crédito: Thiago T. Salles
“aqui, o futuro e o passado são feitos das horas úmidas do
tempo. falemos, pois, como nos convoca Bárbara, a língua da
terra e carreguemos conosco o silêncio do mundo.”
Carolina Hidalgo Castelani, escritora e psicanalista
“A voz incauta das feras” (92 págs.), terceiro livro da escritora e bordadeira Bárbara Mançanares (@bamanzanares) reúne poemas que escapam do entendimento de uma mensagem imediata e provocam quem lê a partir da linguagem e das interessantes imagens alcançadas. A obra, publicada pela Editora Patuá, conta com a orelha e o posfácio assinados pela escritora e psicanalista Carolina Hidalgo Castelani e prefácio escrito pela poeta e influenciadora literária Aline Aimée. A autora lança o livro neste sábado, dia 5, às 17h, na cafeteria É Café (Rua Maria Quitéria, 374) no Centro de Eunápolis (BA), onde reside.
Nesse livro, o mundo natural encontra as palavras fora do dicionário, subvertendo uma suposta utilidade da língua. O poder de criação de imagens da poeta é onírico e profundo, indo além do que parece real e cotidiano.
Na orelha, Carolina Hidalgo Castelani explica: “É como uma oração construída sílaba atrás de sílaba. A natureza como compositora do alfabeto que transcende o tempo. Entramos em contato, nestas páginas, com a selva indômita de nossos sonhos”.
Segundo a autora, esse efeito de suspensão da realidade é intencional. “Meu livro convida não a uma resposta sobre algo, mas a adentrar o enigma. Como lidamos com aquilo que nos escapa?”.
Bárbara Mançanares explica que sua intenção é fugir da ideia de precisar passar uma mensagem linear. Segundo ela, “A voz incauta das feras” trabalha a constituição da palavra, do idioma, acompanha, atravessa e às vezes subverte os ciclos da natureza. “Nos poemas, a densidade das imagens é o foco, não buscando propor uma interpretação e entendimento linear, mas sim a ‘persistência do enigma’, como nos convoca a escritora María Negroni em ‘A arte do erro’ (100/cabeças, 2022)”, complementa.
A poeta confessa que esse livro foi para ela uma grande experimentação artística. Para escrevê-lo, ela precisou aliar seus processos antigos a novas ferramentas de criação, como a escrita automática, método utilizado por escritores do movimento surrealista. Bárbara não escreve a partir de projetos pré-estabelecidos, mas sim de palavras que a mobilizam. Essa busca pelas palavras a trouxe para a obra.
“Nos últimos anos passei a perceber que essas palavras se repetem na minha escrita, criando uma espécie de território poético no qual eu mergulho. Fui criada na roça, no convívio com a terra, com o barro, com o verde, com os açudes, com o isolamento. Hoje vejo que esse território da infância, da adolescência e de parte da vida adulta influenciam os temas e as imagens presentes na minha escrita”, reflete.
Bárbara Mançanares e a escrita como algo fundante de si
Bárbara Mançanares é poeta e bordadeira. Nasceu no sul de Minas Gerais e vive, atualmente, no sul da Bahia. Possui graduação em História (UFOP) e mestrado em Museologia e Patrimônio (UNIRIO). É autora do livro Maio (Quintal Edições, 2018), Cartografias do corpo que canta (Editora Patuá, 2021) e A voz incauta das feras (Editora Patuá, 2024). Seu segundo livro foi vencedor do Prêmio Nacional Mozart Pereira Soares de Literatura na categoria Poesia em 2023. Atualmente escreve seu primeiro romance com o apoio do Itaú Cultural (Edital Público Rumos 2023-2024).
As responsáveis pelo primeiro grande impacto da literatura na poeta foram Adélia Prado e Clarice Lispector. “Elas inauguraram em mim o sem-nome, aquilo que nos toca e nos escapa em uma leitura.” Depois foi a vez de García Márquez, Manoel de Barros, Guimarães Rosa, Alejandra Pizarnik, Ana Martins Marques e Herberto Helder.
Já as influências diretas e indiretas que ajudaram a construir a “A voz incauta das feras” foram Alejandra Pizarnik, Ana Paula Tavares, Herberto Helder, Mónica Ojeda, Mell Renault e Al Berto.
Seus próximos projetos incluem um novo livro de poemas a ser publicado em 2025 pela Editora Toma aí um poema (TAUP) e a publicação de seu romance de estreia, escrito com o apoio do Itaú Cultural.
Confira um poema do livro (página 80):
eu sou a que navega sobre a devastação das pedras
perceba o rio violento
a dissolução das falésias
perceba a voz distante dos penhascos
há uma extensão de cardumes sob meu casco
nossos nomes recobertos por lençóis de água e lodo
eu sou a que navega
e profana com a língua o murmúrio das nascentes
Adquira “A voz incauta das feras” via Editora Patuá: https://www.editorapatua.com.
Nenhum comentário:
Postar um comentário