Reviravoltas e “Efeito Streisand” marcam corrida à Prefeitura de São Paulo
Por Emanuel Pessoa
A corrida eleitoral para a Prefeitura de São Paulo em 2024 está sendo marcada por uma série de fatores, incluindo reviravoltas inesperadas, preocupações com a disseminação de fake news e o chamado “Efeito Streisand”. Esse fenômeno social ocorre quando uma tentativa de ocultar ou censurar informações acaba gerando o efeito oposto. Ou seja, a informação é amplamente divulgada e amplificada, frequentemente com o auxílio da internet.
Até recentemente, era consenso entre estrategistas de campanha que o candidato do PRTB, Pablo Marçal, havia atingido seu limite eleitoral. O senso comum das campanhas era de que Marçal não tiraria votos suficientes do prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB), que, no segundo turno com Guilherme Boulos (PSOL), seria vitorioso. Esse realmente parecia o curso natural dos eventos. Contudo, “havia uma Tabata Amaral no meio do caminho”.
Também candidata à prefeitura pelo PSB, a deputada federal mudou a situação. Visivelmente irritada pelos ataques pessoais que recebeu de Marçal, e lutando para avançar nas pesquisas, Tabata recorreu a argumentos jurídicos para bloquear a monetização de terceiros para alavancar as redes sociais e a presença digital do adversário. A Justiça Eleitoral aceitou a tese de haver indícios de que Marçal estaria cometendo abuso de poder econômico ao pagar a terceiros por cortes e edições de suas participações em debates e entrevistas, pois não contabilizava esses gastos como parte da campanha.
A estratégia de Marçal, inspirada em Andrew Tate, um influenciador internacional que utilizou métodos semelhantes para ampliar seu alcance, objetiva maximizar a visibilidade através de cortes e edições de vídeos feitas por terceiros, com premiações em dinheiro para aqueles que conseguissem mais visualizações ou interações. Marçal admitiu utilizar essa abordagem, a qual se mostrou eficaz na ampliação de sua presença online. No entanto, a decisão judicial obtida pela campanha de Tabata acabou gerando o efeito oposto ao esperado, aumentando a procura por Marçal, que criou um novo perfil nas redes sociais.
Quando se tenta impedir o acesso à alguma informação, conteúdo ou imagem, a busca por ela simplesmente aumenta de forma estrondosa. Isso se denomina "Efeito Streisand, uma "homenagem" à americana Barbara Streisand, que ao processar um site para remover a foto de sua casa, em 2003, alegando questões de privacidade, fez os acessos dispararem e eliminou qualquer expectativa real de privacidade. Esse fenômeno já se manifestou em outros contextos no Brasil, não apenas no cenário político, mas também em casos envolvendo jogadores e apresentadores de TV, ganhando destaque novamente.
Em 2014, por exemplo, durante a campanha presidencial de Marina Silva, surgiu um meme nas redes sociais alegando que seu marido estava envolvido em desmatamento em 2003 e 2008, supostamente sem punição devido à sua relação com a ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula. O caso foi investigado pelo MPF a pedido de Marina em 2011 e arquivado em 2013. Em 2014, o episódio foi amplamente divulgado, renovando as suspeitas sobre a liderança do partido Rede. Em 2018, o boato ressurgiu no WhatsApp, e as tentativas de restringir a circulação da informação podem ter intensificado os danos à campanha de Marina, já que aumentaram as buscas por ela.
Agora, após o bloqueio dos perfis de Marçal, o ex-coach se posicionou como vítima de censura, o que aumentou a curiosidade pública e gerou um impulso inesperado para sua campanha. Em questão de horas, sua conta reserva no Instagram superou a de Tabata. Já nas pesquisas, o candidato apareceu em 2º lugar no Datafolha, com 21%; em 3º no Atlas Intel, com 16,3%; e assumiu a liderança no Instituto Veritá, com 30,9%.
Atrelado a isso, um dos principais receios da sociedade atual no contexto das eleições é o impacto das fake news. Segundo uma pesquisa do Instituto DataSenado, 81% dos brasileiros acreditam que as notícias falsas podem influenciar significativamente o resultado das eleições. O levantamento também revelou que 72% encontraram fake news nas redes sociais nos últimos seis meses e consideram "muito importante" controlar essas publicações para assegurar uma competição eleitoral justa.
Além da possibilidade de Tabata ter, inadvertidamente, impulsionado a candidatura de Marçal ao ignorar o “Efeito Streisand”, outro fator relevante nas eleições é a crescente propagação de informações falsas. Com isso, é fundamental que os eleitores estejam atentos e informados sobre essas questões para entender o desenrolar dos próximos capítulos.
A seguir, alguns pontos que precisam ser considerados para as próximas etapas da campanha:
É fundamental que os eleitores verifiquem a veracidade das notícias que recebem, consultando fontes confiáveis antes de formar uma opinião ou compartilhar qualquer conteúdo;
É preciso acompanhar como os candidatos estão utilizando estratégias de campanha, incluindo o uso de redes sociais e a reação a ataques. A tentativa de combater irregularidades deve ser feita levando em conta o “Efeito Streisand”, ou pode influenciar a percepção pública dos candidatos, até mesmo favorecendo aqueles que possam estar cometendo irregularidades;
É necessário estar atento às maneiras como os candidatos gerenciam seus recursos e enfrentam acusações;
As reviravoltas inesperadas e a dinâmica das campanhas podem alterar o cenário eleitoral. Assim, é importante estar informado sobre as últimas atualizações nas candidaturas para avaliar melhor as implicações para o futuro da cidade.
*Emanuel Pessoa é advogado especializado em Direito Empresarial, Mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela USP e Professor da China Foreign Affairs University, onde treina a próxima geração de diplomatas chineses.
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