"CARMEN" VIRA MODELO DE ALTA COSTURA NO THEATRO MUNICIPAL DE SP. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET. - Quero Notícia

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07 maio, 2024

"CARMEN" VIRA MODELO DE ALTA COSTURA NO THEATRO MUNICIPAL DE SP. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


 

Mais uma nova  produção da ópera Carmen de Bizet estreia no Theatro Municipal de SP. Como não temos um teatro de repertório no Brasil as versões da cigana sempre são diferentes. Essa é a quinta que assisto ao vivo. Um luxo que nem nos países mais abastados acontece. Lá as produções ficam sendo encenadas por décadas, aqui como somos estribados jogamos tudo fora e fazemos de novo, esperto nosso método. 

Vamos falar dessa produção. Está estupenda! Acertaram na versão, fizeram a original com os diálogos falados entre os números musicais, característica original da "Opera Comic" francesa. Pena que cortaram muitos deles.

 A mudança de época gera enorme risco do diretor se perder no contexto da obra. Não foi o caso de Jorge Takla, levou a Carmen para a Espanha do ditador Francisco Franco (1892-1975). Ela vira uma modelo em um ateliê de alta costura e tudo gira em torno dela. Takla encontra soluções inteligentes para a transposição de época dando fluência a narrativa. A plasticidade, o posicionamento e a atuação dos personagens dão dinâmica ao enredo. A mensagem que o diretor passa é a luta pela liberdade ausente na ditadura de Franco.

A transposição de tempo apresenta algumas cenas que não se encaixam, somente conhecedores profundos da obra reparam, caras chatos como eu e alguns críticos. O público leigo que assistiu a versão no Theatro Municipal de SP entendeu a história e se esbaldou com  a música.

Cenários de Nicolás Boni e figurinos de Pablo Ramírez casam com a concepção. Tudo flui naturalmente, até a introdução da dança flamenca fica perfeita. A luz de Mirella Barndi é impactante e correta. O coro infantil foi muito bem ensaiado pela regente  Regina Kinjo. Para o Coro Lírico Municipal, recheado de solistas, foi barbada, manteve alto nível com a regência de Érica Handrikson.

 A Orquestra Sinfônica Municipal regida por Roberto Minczuk fez excelente trabalho, musicalidade correta onde o clima e o calor da Espanha se apresentam com intensidade. Em nenhuma vez encobre os solistas, Minczuk achou a temperatura musical correta nesse petardo de Bizet. 

    Os solistas tiveram bom desempenho, Annalisa Stroppa é mezzo-soprano, fez uma Carmen  com graves generosos, chegando a bater na trave para um contralto. Poucas vezes vi uma voz tão escura e potente. Cenicamente não foi uma das melhores Carmens, a compensação fica no vozeirão. Max Jota faz carreira na Europa, o tenor mostrou excelentes agudos em uma interpretação cênica mediana. O barítono Fabian Veloz não convenceu como o toureiro Escamillo, voz sem os graves potentes e escuros inerentes ao personagem. O soprano Camila Provenzale (ex-Camila Tittinger) destacou a leveza e ingenuidade da personagem Micaela, bons agudos e cenicamente convincente foram a tônica de sua atuação. 

  Ficam os destaques para o sempre excelente barítono Johnny França como Dancaire, o tenor Jean Willam como remendado deu conta do recado. Raquel Paulin como Frasquita esteve à altura personagem e Andreia Souza como Mercedes apresentou excelente performance vocal.

Resuma do ópera: Essa produção possuí qualidade para estar em qualquer teatro lírico do mundo. Espero que seja reapresentada outras vezes no Theatro Municipal de SP e que faça intercâmbio com outros teatros brasileiros. Seria pedir muito que isso acontecesse! Essa é uma versão que fica deslumbrante no teatro e melhor ainda no vídeo. Espero que tenha uma versão completa nas Net.

Ali Hassan Ayache

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