CONVERSAS PSICANALÍTICAS COM O DR. EDUARDO BAUNILHA
O deus que engole seus filhos
Como é sua relação com o tempo? O mais conhecido é o tempo cronológico, que vem de Crono, um deus grego relacionado ao tempo. É contado que com medo de ser destronado, ele engolia seus filhos assim que nasciam.
Parece assustador a ação do deus mitológico, mas se relaciona com uma verdade contundente: somos engolidos pelo tempo, ou seja, Crono continua com sua ação para se manter no poder.
A vivência com o tempo é interessante, pois ela é sentida. Tudo o que vivemos é um desafio porque deixa marcas. Experienciamos amarguras ou alegrias. E o mais assustador é que Crono é um titã e, como tal, não perde sua soberania, não é vencido. Desta forma, somos súditos dele. Então, se não formos racionais, ele nos fará sofrer, nos entediará, nos engolirá.
Há muitas maneiras de relacionarmos com o tempo. Uma delas é viver a pressão que este tempo nos confere ao nos envolvermos com tantas atividades. Sendo assim não vemos o tempo passar. O problema maior é quando estes afazeres nos fazem brigar com o tempo por ele nos fazer sentir que não estamos tendo competência para terminar o que nos propomos fazer.
E o que podemos falar do relógio, que nos põe diretamente em contato com Cronos? É um objeto que nos oprime, controla e que gera em nós medo e angústia, na maioria das vezes.
Pensando em todos esses ditos, parece que o tempo cronológico é sempre um vilão, quando nem sempre precisa ser. Ele pode ser um aliado quando entendemos que precisamos aceitar suas regras. Lembra, Crono é soberano, é sempre rei.
E como podemos construir uma relação com Crono de maneira amigável? Precisamos ter um tipo especial de sabedoria que podemos chamar de racionalidade. Não dá para convivermos com o tempo sem pensar sobre ele, o que ele está produzindo em nós, de que maneira estamos lidando com suas regras. E tal racionalidade não precisa ser uma ação sofrida. Basta utilizarmos o questionamento. Perguntas que nos farão enfrentar Crono, não na ilusão de vencê-lo, mas com a certeza de que ele não nos oprimirá, não na modalidade máxima possível para que nós nos sintamos engolidos.
Um fortíssimo abraço para você!
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