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13 janeiro, 2023

Candidatas já se preparam para as urnas em 2024

 Candidatas já se preparam para as urnas em 2024


De norte a sul do Brasil, mulheres negras, mães, LBTQIA+ aprendem em curso gratuito como obter melhores resultados na próxima disputa municipal


As pernambucanas Janielly Azevedo e Ailce Moreira viram seu mundo cair ao não alcançar a quantidade de votos necessárias para ocupar uma cadeira no Legislativo Brasileiro nas eleições de 2022. Mesmo assim, não pararam de trabalhar um minuto para ressignificar essa derrota, transformando-a em aprendizado para a corrida em 2024.


Janielly é ex-candidata a Deputada Federal, preta, mãe, estudante de jornalismo na UNICAP e participante ativa na política, no cargo de presidente do diretório municipal de Jabotão dos Guarapares. Já Ailce, de ascendência negra e indígena, é evangélica, artista, progressista e foi candidata à Deputada Estadual, lutando pelo alcance da justiça, da dignidade humana e da vida plena para toda a sociedade.


Outro exemplo de superação é da ex-candidata ao Governo tocantinense, Karoline Chaves. Advogada especialista em direitos das mulheres e pessoas LGBTIs, estudos latinoamericanos e desenvolvimento regional, Karoline participa ativamente na política pela Rede Candaces e a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, focando no combate a homofobia.


O que as três têm em comum? A  seleção para participar do projeto social d'A Tenda das Candidatas, que oferece uma formação gratuita voltada às mulheres que foram às ruas pedir votos, mas não conquistaram uma cadeira nas últimas eleições. A ideia é não permitir que elas desistam de fazer parte do quadro político brasileiro.


O projeto - Ao todo, 17 brasileiras vêm buscando uma virada de chave nesta nova formação do projeto, intitulada “Pós-Eleições para não eleitas”. Em uma analogia à letra “Volta Por Cima”, de Paulo Vanzolini, elas tentam levantar, sacudir a poeira e buscar novos conhecimentos e apoio emocional para encarar as próximas disputas.


Permitir que candidatas mulheres ressignifiquem o termo “derrota nas urnas” é um dos principais desafios dos encontros semanais promovidos pelo projeto. As aulas, que ocorrem de forma online e gratuita, têm duração de três meses.


Como explica Hannah Maruci, doutoranda e mestra em Ciência Política na Universidade de São Paulo e uma das fundadoras d’A Tenda das Candidatas, o período eleitoral é uma maratona para todas as pessoas, um processo que esgota as energias de várias formas. 


“No caso das mulheres, sobretudo as negras, LBTQIAP+, indígenas, quilombolas, PCDs e mães, essa experiência pode ser traumatizante”, acrescenta ela, lembrando da importância de dar voz e abrir portas para esse público historicamente negligenciado. 


Hannah conta que, embora A Tenda das Candidatas ofereça desde 2020 uma preparação às mulheres que vão disputar uma vaga na política, é a primeira vez que o projeto seleciona veteranas dessa maratona. Nessa edição especial da formação, foram escolhidas apenas 17 ex-candidatas – ou “atendidas”, como preferem ser chamadas – para que cada uma tivesse uma consultoria personalizada. 


Além de ter concorrido nas últimas eleições, outros critérios foram levados em consideração nessa escolha, seguindo as diretrizes do projeto social: combater as desigualdades racial e de gênero nos cargos do Poder Legislativo e Executivo, pela inserção do público feminino na política, priorizando, inclusive, as negras e indígenas.


As fundadoras do projeto decidiram focar os esforços nas “não eleitas” para essa formação, trazendo às aulas diversos temas necessários para o êxito nessa trajetória, incluindo desde questões práticas (como auxílio para a prestação de contas da campanha) até situações mais complexas, como o apoio psicológico para vítimas de violência sofridas durante a disputa. 


Para Karoline Chaves, com o apoio, ela aprendeu que é preciso um tempo para descansar e retomar as atividades porque, “acima de tudo, somos necessárias”. Já Ailce afirma que “como candidata de 'primeira viagem' participar da formação para candidatas não eleitas d'A Tenda  é reconstruir o horizonte da luta e do caminho político”. Janielly finaliza: “A Tenda não só me trouxe mais segurança, como também trouxe um novo horizonte para nossa equipe”.


Para a advogada Laura Astrolabio, co-fundadora da A Tenda das Candidatas, abrir essa oportunidade às candidatas não eleitas também é uma forma de mudar a regra do jogo. “O período pós-eleições é extremamente crucial para a retenção de lideranças no processo eleitoral, pois se uma candidata passou por essa experiência, mesmo não se elegendo, ela já pertence a um quadro mais forte para as próximas eleições”, afirma.


Conta Desigual - Além de formação de mulheres para a política, a Tenda das Candidatas atua na divulgação de estudos e análises sobre as desigualdades nas eleições, como fez na recente campanha “A conta não fecha”, quando denunciou a sub-representação de gênero e raça nos cargos dos poderes Legislativo e Executivo do País. 


Mulheres somam 53% do número de eleitores no Brasil, mas são apenas 15% do Congresso, ou 15 mulheres num universo de 81 senadores. No caso das mulheres negras, elas representam 2,5% das cadeiras na Câmara dos Deputados e, no Senado, ocupam só 2 das 54 vagas na atual legislatura. 


“A política eletiva tem uma estrutura de exclusão complexa que atua para expulsar mulheres, ao negar uma fonte de recursos que as impede de fazer uma campanha digna. Infelizmente, o fundo eleitoral no Brasil tem gênero e têm cor”, conclui Laura.



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