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16 junho, 2021

Transição capilar: o resgate da identidade e da beleza dos fios originais

 Transição capilar: o resgate da identidade e da beleza dos fios originais

Camila de Luca, Taís Araújo e Whinderson Nunes optaram pela transição capilar

(Whinderson Nunes/Reprodução Instagram)

Nos últimos tempos, cada vez mais mulheres optam por passar pela transição capilar, que nada mais é do que resgatar a textura original dos fios. O desejo de  abandonar as químicas transformadoras como alisamento, relaxamento e a famosa progressiva, para assumir a beleza natural do cabelo, cresce a cada dia. É um processo em que a pessoa deixa de usar métodos artificiais para alisar o cabelo e aceita a forma natural, seja o cacheado, ondulado ou crespo.

Esse movimento da transição ganhou ainda mais força quando artistas e famosos passaram a divulgar que estavam passando pelo processo. No BBB 21, a influencer Camila de Luca deu uma aula sobre isso e, recentemente, falou sobre o assunto de forma contundente, incentivando muitas mulheres a seguirem com coragem por esse caminho. Outra que dia desses também tocou no tema foi a atriz Taís Araújo. “Força meninas! Transição capilar vale a pena!”, escreveu a estrela em uma postagem no Instagram. 

E quem pensa que a transição é algo só do universo feminino está bem enganado. O Youtuber Whinderson Nunes também entrou nessa e compartilhou o processo com seus seguidores. “Leãozinho! Oito meses sem química na juba!”, escreveu ele. 

Especialista com a palavra

Mas a transição, muitas vezes, gera insegurança e inúmeros questionamentos: qual a melhor forma de fazer ou que profissional procurar? E os produtos a utilizar? Quanto tempo demora e será que vou conseguir passar por esse processo?

Para a Dra. Luciana Passoni, médica tricologista o ideal, realmente, é deixar os cabelos crescerem, sem nenhuma interferência, por um período mínimo de 4 meses. “O importante é a pessoa ter autonomia e fazer aquilo que se sinta bem. Ela deve se aceitar primeiro, sem precisar responder aos padrões de beleza impostos pela sociedade”, pontua Dra. Luciana que também faz um alerta importante: “Não basta a vontade de resgatar o cabelo natural para passar pela transição capilar. É preciso ter plena consciência de que será uma longa fase que, em alguns casos, pode levar anos.”

Acredita-se que essa tendência de retomar os fios naturais pode ser resultado de um desejo de resgate do passado da pessoa, simbolizado, nesse caso, pela volta do cabelo original. Mas a médica dá mais um conselho, principalmente para as mulheres, sempre tão cobradas na questão da aparência: ninguém deve optar pela transição (ou alisamento) apenas para acompanhar uma tendência!

Saúde e empoderamento

Em algumas situações (nunca generalizando), ao optar pela transição podemos considerar um ato de empoderamento. Isso quando esse desejo parte da mulher e reflete a vontade de se reencontrar. Empoderar-se é, muitas vezes, transgredir e se superar. É não viver atrelada a padrões estéticos ou submeter-se às imposições. É a sensação de pertencimento de si, de desenvolver autoconhecimento, autoestima, além, claro, de trazer muitos benefícios à saúde da fibra capilar.

Ao iniciar a transição capilar é importante que a paciente procure profissionais de sua confiança para acompanhá-la nesse longo processo. Um dermatologista capilar sempre orientará os produtos certos a serem usados para cada tipo de cabelo, evitando assim futuros problemas, como queda e perda da força dos fios.

De acordo com a especialista é muito importante a elaboração, junto com o paciente, de um cronograma capilar. “Isso consiste em reconstruir, nutrir e hidratar os fios de acordo com tipo de cabelo específico. Também é muito importante cuidar da alimentação, se necessário fazer uma dieta suplementar e estar com o organismo sempre hidratado (muita água!). Além disso, é preciso ressaltar que o couro cabeludo deve ser cuidado e tratado durante todo o processo da transição”, explica a doutora Luciana, completando que “o couro cabeludo é a base de tudo, a peça-chave para o crescimento de fios saudáveis.”

Pessoas certas

Outro ponto de extrema importância no processo de transição é o acompanhamento de um cabelereiro especialista em cachos/crespos. Isso possibilitará a identificação melhor dos tipos de cabelos, que são divididos em categorias conforme o grau de curvatura: ondulados, cacheados e  variações de crespos. 

Esse profissional orientará a frequência certa para a pessoa voltar ao salão e fazer tratamentos (cronograma capilar) que ajudem a deixar os fios saudáveis durante a adaptação. “Isso é essencial para garantir cabelos bonitos e macios durante todo o processo”, alerta Luciana. 

Quando hidratar e nutrir?

A doutora Luciana pontua que a hidratação é responsável pela maleabilidade, maciez e sedosidade dos cabelos. As principais características da desidratação incluem: falta de maciez, brilho e movimento. Os fios tornam-se pesados, embaraçados e com aspecto ressecado. 

Vale lembrar ainda que cabelos cacheados e crespos são, naturalmente, mais ressecados, porque não conseguem levar a oleosidade natural do couro cabeludo até as pontas. Por essa razão uma nutrição bem feita é a responsável pelo brilho, definição e corpo aos fios. O alerta de que o cabelo precisa ser nutrido é quando ele apresenta volume excessivo, pouca definição dos cachos, frizz e pouco brilho.

A médica tricologista explica que os cosméticos destinados aos protocolos capilares para nutrição e hidratação contêm diferentes substâncias em suas fórmulas, e cada uma delas tem uma função específica. Entre os ativos mais utilizados nas formulações estão os silicones, óleos vegetais (macadâmia, coco, argan, jojoba, copaíba e oliva), colágeno, multivitaminas (A, E, F), aminoácidos (queratina, elastina, arginina, seda) e os filtros solares. São potentes hidratantes: pantenol, ceramidas, manteiga de karitê e aloe vera.

Mas atenção! A indicação dos produtos deve acontecer de acordo com a necessidade dos cabelos, sendo sempre importante a avaliação profissional.

Liberdade de escolha

(Mariana Menezes/divulgação)

A jornalista especialista em Marketing Digital Mariana Menezes é uma das milhares de mulheres em todo o Brasil que optou pela transição capilar e está feliz da vida com sua decisão. Mariana foi refém dos processos químicos nos fios por cerca de 10 anos e já nem se lembrava mais como era ter seus cachos. 

Nesta conversa ela conta como foi sua experiência com a transição, as dificuldades que passou durante o processo e a realização ao se ver, novamente, com lindo, e versáteis, cabelos cacheados. Confira!

Por que você decidiu fazer a transição?

Mariana Menezes: Primeiro pela facilidade, porque sempre tive cabelo comprido e, mesmo com progressiva, demorava cerca de duas horas entre a escova e a chapinha. Isso 3 vezes pós semana, era cansativo demais. Segundo porque depois de dez anos fazendo alisamento, já não lembrava mais qual era a textura do meu cabelo, e ver o movimento das cacheadas me incentivou a ter os fios natural novamente.

Por quanto tempo usou químicas para alisar os cabelos e o que te levou a isso, na ocasião?

Mariana: Fui refém da progressiva e do relaxamento por 10 anos. Comecei quando eu tinha 11 anos. Lembro que não gostava do meu cabelo, nunca usava ele solto porque ele “armava”. Na escola todas as minhas amigas tinham cabelo liso, natural ou alisado, e eu não queria ser diferente. Há 15 anos não era comum ver mulheres cacheadas nas ruas para se inspirar, né? 

Qual a maior dificuldade na sua transição capilar?

Mariana: A fase mais difícil, sem dúvida, é quando a raiz começa a aparecer, porque a textura é muito diferente do restante do cabelo, então você fica com um volume enorme no topo da cabeça e o restante “escorrido” (risos). Meu cabelo cresce muito rápido, então ao mesmo tempo em que foi difícil, passou depressa. Com um ano e meio eu já consegui cortar quase toda a parte lisa. 

Qual sua maior preocupação quando optou pelo processo?

Mariana: No início meu maior medo era não conseguir aguentar até o final. Mas aos poucos fui adquirindo técnicas para amenizar a diferença de texturas, com hidratações caseiras, e continuei fazendo escova e chapinha até o momento de cortar. 

Que conselho pode dar para quem ainda está em dúvida, pensando se inicia ou não a transição?

Mariana: Acredito que não há nada melhor do que você se olhar no espelho e se sentir bem, sem precisar seguir um padrão estético. É libertador não precisar ser refém de escova, chapinha, alisamentos ou qualquer outro procedimento. 

De que forma retomar os fios originais de seu cabelo interferiu em sua autoestima?

Mariana: Eu me sentia bem com o cabelo liso, como também me sinto bem com o meu cabelo cacheado. A grande diferença está em você usar o que te faz bem verdadeiramente, e não o que esperam que você use só porque “todo mundo usa”. Quando sinto vontade, uso o meu cabelo liso, depois lavo e os cachos voltam. E me sinto bem assim, podendo escolher. 

Sente-se mais poderosa agora com seus cachos de volta?

Muito! O legal do cabelo cacheado é que ele muda muito conforme a finalização, então todo dia você pode ter uma textura diferente. Mudar faz com que a gente se sinta mais poderosa, né? Então é como se eu mudasse todo dia um pouquinho.

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