Testes em animais: especialista explica sobre as opções de testagem clínica sem crueldade animal
As vendas de produtos de beleza e higiene no Brasil cresceram 22,6% em julho de 2020, o que segundo a Abihpec, Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, foi um aumento maior do que o esperado. A alta na comercialização também acompanha uma mudança, mesmo que lenta, na indústria, com empresas que buscam a cada dia alternativas para o uso de animais em testes clínicos, um padrão que foi utilizado por anos.
Essas adaptações seguem uma mudança no comportamento do consumidor. Segundo uma pesquisa feita em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), 55% dos brasileiros dariam preferência para produtos veganos se houvessem indicações nas embalagens. Apesar deste movimento, considerável parte das empresas ainda realizam testes em animais. A fisiologista, tecnóloga em estética e cosmética e professora do Centro Universitário Una Uberlândia, que faz parte do grupo Ânima Educação, Maria Raquel Borges, pontua que existem outras maneiras seguras e até mais eficazes, de se realizar as testagens necessárias dos produtos e não praticar um ato de crueldade animal. Segundo a professora, macacos, cachorros, coelhos, porquinhos-da-índia, bovinos, aves e principalmente camundongos, devido ao seu porte e semelhança genética com os seres humanos, são os mais utilizados em testes clínicos. “Muitos ignoram ou sabem pouco sobre os testes em animais que são realizados pelas indústrias, em especial a de cosméticos. Os experimentos deixam os animais extremamente debilitados e até mesmo levam a óbito. Atualmente, tem-se questionado muito sobre esses processos e algumas empresas já praticam ou procuram por alternativas”, conta a especialista.
Dentre essas novas possibilidades, duas vem ganhando destaque entre os cientistas. A produção artificial, há alguns anos, desenvolve técnicas de produção in vitro em que células e tecidos são produzidos de forma sintética e podem ser usados nos testes. “É uma técnica que levou a avanços científicos significativos. Usar células e tecidos cultivados vem mostrando que os resultados podem ser inclusive mais pertinentes, pois o controle do experimento é maior e mais fácil. Além disso, esses materiais criados artificialmente podem se aproximar mais das características humanas”, pontua ela. Maria Raquel compartilha que a técnica está sendo bem aceita na comunidade científica, pois fornece dados confiáveis e que são gerados em um tempo menor de testagem, além de ter um custo mais baixo se comparado a experimentos com animais.
O avanço tecnológico também permitiu que outra técnica surgisse, a chamada Epiderme Humana Reconstituída (RHE), que substitui as testagens feitas em animais para checar a toxicidade aguda para pele e olhos. “É um modelo que utiliza os queratinócitos, que são células da camada superficial da pele e estão em contato com o meio externo, nos permitindo analisar questões de toxicidade e como seria a reação com elementos exteriores”, explica. Apesar da RHE ser uma alternativa de alto valor devido à importação dos materiais necessários, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Econômico (OECD) disponibilizou guias orientativos que incentivam a produção de modelos de RHE e os processos que necessariamente precisam ser seguidos.
Falta de lei federal dificulta processo de proibição
Em relação às leis que proíbem o uso de animais em testes clínicos, alguns estados brasileiros possuem diretrizes contra estas testagens, entretanto a ausência de uma lei federal em relação ao assunto, deixa algumas brechas nas regras que dificultam um processo uniforme e que englobe todo o território nacional.
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