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05 dezembro, 2020

 Ex-Integrante Do Rosa Neon, Mariana Cavanellas Lança Tudo Vibra, EP Duplo Que Marca A Estreia Da Sua Carreira-Solo

Intitulados Noite e Dia, os EPs são guiados pela experiência da artista com a maternidade e propõem reflexões políticas


(Divulgação)

 Quando nasce uma criança, a potência de uma nova mulher também nasce com ela. A experiência de se tornar mãe evoca a atmosfera de uma menina interna que coabita um mesmo corpo e mente. Inocência, sonho, realidade e contemplação se misturam. São essas as reflexões que permeiam o EP duplo de estreia da carreira-solo de Mariana Cavanellas, ex-integrante do grupo mineiro Rosa Neon. Tudo Vibra nasce dividido em duas produções que se complementam: os EPs Noite e Dia, que acabaram de chegar nas plataformas de streaming (ouça aqui).


O processo criativo de Tudo Vibra aconteceu logo após o nascimento da primeira filha de Mariana, Mayu, hoje com 8 meses. "No meu puerpério, tudo me parecia sem saída. E foi aí que alguém me disse sobre o milagre do dia e da noite, sobre estar presente nos detalhes de cada um deles - observar a cor, o contraste", explica a mineira. "Quando pensei nisso, quis trazer a transição entre a minha criança contemplativa e a minha mulher-mãe, que vê as rachaduras do mundo", completa. 

Tudo Vibra é formado por 11 faixas inéditas que partem de uma linguagem que não procura se encaixar em um gênero musical específico, em oposição às canções voltadas para o pop que Mariana produziu com o Rosa Neon. "Esta é uma obra para o tempo, traz a minha identidade. Depois que eu percebi que sou capaz de nutrir um corpo com o meu próprio corpo, várias premissas se transformaram", conta a artista. 

Registrados no sítio da família de Mariana, em Igarapé, município da região metropolitana de Belo Horizonte, os EPs mergulham na intimidade de Mariana, então ela pensou a sonoridade de forma íntima, trazendo uma única percussão, de Nara Torres, o violão, tocado por André Mimiza, e uma construção de samples feita por Rafael Fantini. O resultado é um trabalho musicalmente híbrido entre o orgânico e o eletrônico, também intenso, político e com fortes referências à autocura, natureza e presença humana. 

Cura, aliás, é tema da faixa que abre o EP Noite. "Curandeira" foi feita no início da pandemia de COVID-19, quando o desconhecido se apresentava, e busca lembrar as potencialidades de propósito, força, fé e ancestralidade que existem em cada um. "O Santo", terceira canção de Noite, completa o diálogo sobre autoconexão e essência. "São como um combustível, um convite para ativar forças da nossa história, de autoconsciência e esperança", comenta Mariana. Entre as duas, está "Aro". Composta por Coral, artista da Bahia, ela sugere uma oração sem religião.

Além de ter influência da literatura e do teatro, o EP duplo expõe visões críticas sobre o consumo desenfreado, os excessos de um mundo virtual e os resquícios de um Brasil colônia preocupado em explorar os recursos naturais. Esses questionamentos são trazidos à tona em "Lá Fora" e em "Ideias para adiar o fim do mundo". Esta última faz referência à obra de Ailton Krenak, um dos mais relevantes pensadores indígenas do país. 

"Depois de ler Krenak, a minha percepção de mundo mudou completamente. Não existe resposta imediata, mas deveríamos estar interessados em saber como salvar a natureza, não é?", indaga Mariana. Na voz da artista, a canção retoma a passagem do livro em que o autor discorre sobre a morte do Rio Doce e a necessidade de recuperar os sonhos como base para as decisões do dia a dia. 

"Vovó me ensinou" fecha o EP Noite. A música é um acalanto em referência aos ensinamentos de coragem e liberdade herdados de sua  avó. 

Abrindo o EP Dia, "Coragem" traduz o início da carreira-solo da artista e o rompimento com alguns valores do seu trabalho anterior. Com participação da cantora pernambucana Flaira Ferro, a letra reflete sobre o poder de finalização dos ciclos e relembra a importância de se desligar do que não faz mais sentido. 

Seguindo em defesa dessa natureza que é morada, "Yanomami" ressalta a atenção que se deve ter com os povos indígenas e a forma como vivem. Trata-se de conectar saberes.  

"O Mar", por sua vez, revela em voz e melodia o desejo da artista de morar próximo das ondas. A canção fala de um lugar onde seja possível contemplar em sua plenitude o milagre do dia e da noite, como Tudo Vibra propõe. 

"Oz" finaliza o EP Dia com uma mensagem que condensa muitos dos sentimentos presentes ao longo do trabalho. "Ainda é um grande tabu demonstrar fragilidade. Estamos na era do lacre e lacerando a possibilidade de sabermos de realidades importantes para se chegar numa vida adulta sem caretice", reflete Mariana. 

Ao término da audição dos EPs Dia e Noite, chega-se à completude de Tudo Vibra. Uma obra que deixa as fragilidades expostas, mas busca - por meio das conexões - criar soluções coletivas."Nos tiraram a possibilidade de viver o presente e nos colocaram sempre insatisfeitos e insaciáveis. A gente tem medo do futuro porque não estamos presentes - inteiros - nas escolhas do dia a dia. Temos de buscar soluções para todas as formas de vida, precisamos despertar para o milagre natural do agora e expandir para não extinguirmos nossa espécie", finaliza.

 

Ouça Tudo Vibra aqui

 

Ficha técnica:

Tudo Vibra - Noite

1. Curandeira
Mariana Cavanellas: Voz e coros
Nara Torres : Djun djuns, claves, caxixis, agogô, percursão corporal
Rafael Fantini: Samples e programações

2. Aro
Mariana Cavanellas: Voz e coros
Coral: Voz e coros
Nara Torres: Surdos, agogô, caxixis
Rafael Fantini: Samples e programações

3. O Santo
Mariana Cavanellas: Voz e coros
Nara Torres: Djun djuns, cowbell e caxixis
Rafael Fantini: Samples e programações

4. Lá Fora
Mariana Cavanellas: Voz e coros
André Mimiza: Violão
Nara Torres: Pandeirola, woodblock
Rafael Fantini: Samples e programações

5. Ideias para adiar o fim do mundo
Mariana Cavanellas: Voz e coros
Rafael Fantini: Didgeridoo, samples e programações

6. Vovó me ensinou
Mariana Cavanellas: Voz e coros
Rafael Fantini: samples e programações

Tudo Vibra - Dia 

1. Coragem
Mariana Cavanellas: voz e coros
Flaira Ferro: voz e coros
André Mimiza: violão
Rafael Fantini: violão, samples e programações
Nara Torres: pau de chuva, sino.

2. Yanomani
Mariana Cavanellas: voz e coros
André Mimiza: violão e coro

3. O mar
Mariana Cavanellas: voz e coros
Nara Torres: djun djuns, garfo e faca, kas kas, caxixis, eletroduto, chaves
Rafael Fantini: violão, samples e programações

4. Interlúdio
Rafael Fantini: samples e programações

5. OZ
Mariana Cavanellas: voz e coros
Rafael Fantini: violão, samples e programações
Nara Torres: sino, sapo de madeira, kas kas, unha de lhama, apito
Mayu: coro


Gravação
Produzido por Rafael Fantini
Arranjos por Rafael Fantini e Mariana Cavanellas
Arranjos percussivos por Nara Torres
Gravado por Rafael Fantini, no sítio da família de Mariana Cavanellas, em Igarapé, setembro de 2020
Mixado por Rafael Fantini
Masterizado por Pedro “Cido” Cambraia
Capista: Vinicius Glico
Participações especiais: Coral e Flaira Ferro 
Produção executiva: PIRA Cultural
Diretora musical: Mariana Cavanellas
Selo: Macacolab
Capa: Vinícius Glico
Contracapa: Vinícius Glico
Fotografia: Bruna Brandão
Styling: Arthur Gaffuri

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