Na última quarta-feira, o ex-presidente Donald Trump — sempre ele — voltou aos holofotes com mais uma de suas declarações que misturam espetáculo e política externa. Em tom messiânico, mas com cheiro de palanque eleitoral, Trump anunciou uma tarifa adicional de 10% para "qualquer país que se alinhar às políticas do BRICS." O mundo parou por um segundo. Não para entender, mas para processar o impacto de uma fala que mistura bravata, geopolítica e instinto protecionista — marca registrada do magnata.
Trump, como de costume, não explicou o que entende exatamente por "alinhar-se às políticas do BRICS." Seria comercializar em moeda própria, fora do dólar? Seria se aproximar da China, da Rússia, do Irã ou da África do Sul? Ou seria apenas ousar pensar um mundo multipolar sem o comando absoluto de Washington?
A frase soou como um carimbo de veto antecipado, daqueles que se usavam nas velhas escolas: “Você está com o grupo errado.” No entanto, esse “grupo errado” reúne mais da metade da população mundial, uma fatia crescente do PIB global e um desejo: reequilibrar as forças no tabuleiro internacional.
Tarifas, ameaças e ecos da Guerra Fria
Desde os tempos da Guerra Fria, o mundo não via uma retórica tão dicotômica: ou você está conosco, ou está contra nós. Mas agora, em vez de mísseis, são tarifas. Em vez de exércitos, são taxas aduaneiras. E no lugar de diplomatas, entram em cena os algoritmos e os tweets inflamados.
Na prática, o anúncio de Trump parece mirar não apenas potências como China ou Rússia, mas também países latino-americanos, africanos e até europeus que têm demonstrado interesse em aprofundar relações com o bloco emergente. A tarifa funciona como uma coleira econômica: quer crescer, negociar, se desenvolver? Tudo bem. Mas não com os “inimigos” de sempre.
O Brasil e a dança dos interesses
Para o Brasil, que voltou a exercer protagonismo no BRICS, o recado é claro — e perigoso. Numa era em que as exportações são cruciais para manter a economia em pé, qualquer barreira imposta pelos Estados Unidos acende alertas no Itamaraty e no setor agroindustrial. Os EUA ainda são um dos nossos principais parceiros comerciais. Mas a China é o maior.
Então, a pergunta que fica é: até que ponto vale a pena ceder à pressão unilateral de um líder que vê o comércio como guerra, e o mundo como uma eterna sala de negócios?
Uma retórica que vende votos, mas compra conflitos
Trump sabe o que está fazendo. Em ano eleitoral, palavras fortes rendem manchetes, inflamam seus apoiadores e criam uma ilusão de controle. Falar contra o BRICS é falar contra o “comunismo”, contra os “inimigos da liberdade”, contra tudo aquilo que seu eleitor médio teme — mesmo que não compreenda.
Mas a história mostra que o protecionismo exacerbado costuma cobrar sua fatura. Tarifas altas encarecem produtos, criam tensões e isolam países em vez de fortalecê-los. E num mundo interdependente como o nosso, ninguém cresce olhando apenas para o próprio quintal.
O futuro (im)possível
Enquanto isso, os países do BRICS seguem firmando acordos, criando bancos, tentando redesenhar a ordem mundial à sua maneira. Com todas as contradições que carregam, representam, para muitos, uma alternativa — não uma ameaça.
Trump, ao impor uma tarifa de 10% aos que ousarem pensar diferente, tenta congelar um mundo que já se moveu. Mas como já dizia a sabedoria popular: quem tenta segurar o vento com as mãos, acaba de braços vazios.
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